Luis Figo: "Fui mais importante para Florentino do que ele foi para mim."

Na era moderna, poucos alas existiram como ele. Luís Figo (Lisboa, 4 de novembro de 1972) está afastado dos gramados há uma década e meia, mas sempre será um dos maiores jogadores de futebol da história. O português, pouco antes de gravar um novo anúncio para a Betfair, da qual é embaixador na Espanha desde junho passado, conversa com a ABC sobre o passado e o presente.
-Luis, faz 16 anos que você saiu do futebol, em 2009. Você sente falta?
Não sou uma pessoa que fala muito com meus amigos ou familiares sobre meu passado, minha carreira, o que fiz ou deixei de fazer. A história do futebol inclui minha carreira e minhas conquistas, mas sempre há algo presente que é muito mais importante do que o passado. E eu vivo o presente. Desde que deixei o futebol, tenho me concentrado no meu presente e nos meus assuntos atuais.
- Assuntos relacionados ao futebol, mas nunca no banco. O que seria de um Figo como treinador?
Eu teria sido um discípulo de Johan Cruyff, com certeza. Gosto de bom futebol. Tentaria garantir que meu time entendesse os principais conceitos da minha filosofia e jogasse um bom futebol. A parte mais difícil é transmitir sua ideia aos jogadores, fazê-los acreditar nela e tirar o máximo proveito dela. Hoje, ao contrário de anos atrás, um treinador é composto por uma equipe muito grande de assistentes. A equipe técnica tem de 10 a 12 pessoas e todas as áreas são muito bem equipadas. É por isso que se trata de insistir na sua ideia. E eu tenho uma ideia de futebol que sempre gostei, na linha do que Johan tinha, mas logicamente seria adaptada aos dias de hoje.
- Há pessoas importantes na sua carreira que tiveram um impacto direto ou indireto. Uma das mais importantes, ou talvez a mais importante, foi Florentino Pérez, com aquela contratação em 2000.
-Eu fui mais importante para Florentino do que ele foi para mim.
-Sim?
- Claro. Até então, ninguém o conhecia. Quer dizer, no mundo do futebol. Depois, claro, devido à importância da minha contratação pelo Madrid, Florentino foi importante na minha carreira por cinco anos.
-Como você avalia seus 25 anos como presidente?
Temos que ser realistas e justos. Florentino Pérez foi muito bom no Real Madrid em diferentes fases destes 25 anos. Houve outros períodos em que ele não teve tanto sucesso, mas, no geral, acho que temos que reconhecer que ele fez as coisas muito bem. Esportivamente, tive a sorte de conquistar coisas muito importantes. E financeiramente, pelo que sabemos, ele deu estabilidade ao clube. E, como ninguém é perfeito, ele também cometeu alguns erros, o que é normal.
-O que você acha do Madrid de Xabi Alonso?
- Foi uma pré-temporada atípica por causa do Mundial de Clubes, e não houve muito tempo para trabalhar. Se você olhar para os resultados, só pode ficar feliz. Todas as vitórias. E, em termos de jogo, ele tem espaço para melhorar e ser mais espetacular. Acho que devemos estar satisfeitos porque foi um começo vitorioso.
- Nesta temporada, não há mais dúvidas. O craque é o Mbappé, não o Vinicius. Entendeu?
Não sei quem é um jogador de franquia e quem não é mais. Em um clube como o Real Madrid, o Barcelona ou qualquer outro grande clube europeu, não há apenas um jogador de ponta, mas muitos. A parte mais difícil é administrar egos, e cada jogador deve ser inteligente e saber seu papel dentro da equipe. Saber como estar presente e ajudar o grupo. Os jogadores precisam criar um bom ambiente e garantir um bom trabalho em equipe.
-Fale-me sobre o Barça do Flick… e do Lamine.
Gosto do Flick. Conheço-o pessoalmente e respeito-o e admiro-o. Gosto da sua personalidade, e ele demonstrou isso não só no Barça, mas também no Bayern de Munique e na seleção. O Barça tem muita qualidade e uma geração fantástica de jovens jogadores. E o Lamine já é, e continuará a ser por muitos anos, dependendo da sua ambição, um dos melhores do mundo. Agora, como disse antes, é preciso gerir toda essa qualidade, e os jogadores têm de fazer a sua parte para que isso aconteça.
- A Bola de Ouro será entregue na segunda-feira. Para quem você a entregaria?
- Um prêmio individual é muito subjetivo. Minha opinião é que Dembélé vai ganhar, pelo ano que ele fez e pelo que o PSG conquistou. Vitinha também pode ganhar, que, assim como Dembélé, teve um ano impressionante. Mas está nas mãos do eleitor, e é sempre difícil saber quem vai ganhar, e também é difícil para quem não vota, mas tem sua opinião. Há um grupo de jogadores indicados, e vários merecem ganhar, mas apenas um.
-Ele entendeu o que aconteceu com Rodri e Vinicius na temporada passada.
-Sim, claro que entendi. Estou nessa situação há muitos anos e nunca ganhei. Já terminei em segundo, terceiro ou quinto.
-Ele ficou bravo quando perdeu?
- Não era uma questão de raiva. Se você merece e é indicado, você acha que vai ganhar, e se sim, então fica feliz. Mas se não ganhar, você só precisa continuar seu caminho e sua carreira. No fim das contas, é um pouco como o destino.
- Você nunca jogou com a tecnologia do VAR. Você gosta?
Gosto do VAR porque acho que é justo em muitas situações, mas todos os envolvidos devem estar cientes e saber quando ele deve ser usado e quando não. Não apenas os árbitros. Todos nós precisamos saber quando e por quê. Jogadores, técnicos, árbitros, técnicos, torcedores, toda a indústria, todos nós precisamos saber quando o VAR deve ser usado e quando não. Dessa forma, todos nós estaríamos na mesma página e teríamos um entendimento claro.
- Portugal está pronto para vencer a Copa do Mundo de 2026?
Portugal é uma das cinco melhores seleções do mundo. Isso inclui Brasil, Argentina e todas essas... No fim das contas, o caminho para vencer a Copa do Mundo depende de muitos fatores, não apenas de talento e individualidade. Depende de muitos fatores: as partidas disputadas, contra quem você joga ou não... Há possibilidades, sim, e há esperança. Vamos ver o que acontece.
abc